Por Luís Otávio Rocha*
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em 20 de janeiro do ano de 1866 na Fazenda Saudade, localizada no arraial de Santa Rita do Rio Negro (hoje chamada de Euclidelândia em homenagem ao autor), um dos cinco distritos do munícipio de Cantagalo, no interior do estado do Rio de Janeiro. Era filho de Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha e Eudóxia Moreira da Cunha, seu pai era poeta e trabalhava como guarda-livros nas fazendas de café; sua mãe foi vítima de uma tuberculose e veio a falecer e deixar órfão de mãe o pequeno Euclides de apenas três anos de idade.
Após perder sua mãe, Euclides e sua irmã mais nova, Adélia, são mandados para Teresópolis para ficarem aos cuidados dos tios Rosinda Gouveia e Urbano Coelho de Gouveia. Sua tia Rosinda morre em 1871, sendo assim, Euclides e Adélia vão morar em São Fidélis com sua tia Laura Moreira Garcez, que era casada com o Coronel Magalhães Garcez. Em São Fidélis o menino estudou no Colégio Caldeira, do pedagogo português Francisco José Caldeira; nos dias atuais, o Colégio Caldeira se chama Colégio Fidelense. Em 1877, Euclides deixa a casa dos tios e muda-se para a casa de seus avós paternos, em Salvador. Em território baiano, frequentou o Colégio Carneiro Ribeiro. Ademais, retornou ao Rio de Janeiro quando tinha 13 anos e estudou em quatro colégios: Colégio Anglo-Americano; Colégio Vitório da Costa; Colégio Meneses Vieira e Colégio Aquino.
Foi no Colégio Aquino que Euclides conheceu Benjamin Constant, que foi seu professor, e foi influenciado por este com ideias positivistas e republicanas. Ainda no Colégio Aquino, o jovem Euclides publica seu primeiro artigo em um jornal, O Democrata, que foi fundado por ele e outros colegas. No ano de 1885, em seus 19 anos, matriculou-se na Escola Politécnica do Rio de Janeiro para cursar Engenharia, porém, por se tratar de uma escola cara, não teve como custear seus estudos, o que o levou a se transferir para a Escola Militar da Praia Vermelha que era gratuita, onde se reencontrou com Benjamin Constant. Foi na Escola Militar que ocorreu o incidente em que Euclides tentou quebrar seu sabre-baioneta durante a visita do Ministro da Guerra, Conselheiro Tomás Coelho, como uma forma de protesto. Não tendo conseguindo partir o sabre-baioneta ao meio, atirou o sabre aos pés do ministro, o que ficou conhecido como: o episódio do sabre. Euclides, então cadete na época, foi levado à prisão e depois transferido para o Hospital Militar do Castelo; quando esteve diante dos juízes não teve medo e reafirmou seus ideais republicanos, fazendo com que fosse encarcerado novamente, dessa vez na Fortaleza de São João, onde ficou aguardando a decisão do de guerra, decisão essa que nunca chegou. Por fim, D. Pedro II perdoou o cadete, mas cancelou sua matrícula na Escola Militar, sendo assim, Euclides foi para São Paulo e começou a colaborar com o jornal A Província de São Paulo (que depois se tornou O Estado de São Paulo).
Após a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, Euclides foi reintegrado na Escola Militar da Praia Vermelha e foi promovido a alferes-aluno. No ano de 1890 se matriculou na Escola Superior de Guerra para se tornar bacharel em matemática, ciências físicas e naturais e concluiu seu Curso de Artilharia, também continuou publicando seus artigos em jornais, dessa vez no jornal republicano Democracia. Nesse mesmo ano se casou com Anna Emília Ribeiro, com quem teve seus três filhos. Nesse período, Euclides se mostrava descontente com os republicanos, inclusive Benjamin Constant, e decide se afastar do jornal e das demais coisas. Seu desencanto com a República foi tanto que o levou a abandonar a carreira militar em 1896 e exercer a função de engenheiro na Superintendência de Obras Públicas do Estado de São Paulo.
No ano de 1897, após os jornais noticiarem as mortes do Coronel Moreira César e de mil e quinhentos soldados do exército em Canudos, no sertão baiano, Euclides se preocupa com o episódio e escreve dois artigos para O Estado de São Paulo nos quais compara os revoltosos de canudos aos revoltosos de Vendeia. A comparação se deu por se acreditar na época que o povo guiado por Antônio Conselheiro era composto por fanáticos que queriam restaurar a monarquia, por isso a comparação com os revoltosos de Vendeia que lutaram contra a Revolução Francesa e a favor da Igreja Católica e da Monarquia. Esses dois artigos fizeram com que Euclides da Cunha fosse convidado pelo diretor do O Estado de São Paulo para que cobrisse os embates entre o povo canudense e o exército. Portanto, partiu para Canudos com suas ideias pré-estabelecidas sobre o povo e seus objetivos, buscava cobrir um confronto entre fanáticos monarquistas e o exército brasileiro que lutava pela República. Foi nesse contexto que teve início um dos maiores livros da literatura brasileira, o grandioso: Os Sertões.
Chegando em Canudos em 16 de setembro de 1897, presenciou a guerra e encontrou algo bem diferente do que imaginava, viu uma luta covarde e desigual; viu a força dos sertanejos; viu a covardia que foi feita contra todo um povo; viu, também, que Antônio Conselheiro, apesar de ser monarquista, era assim pelo seu fanatismo religioso. Depois de presenciar o massacre e extermínio do povo canudense, Euclides se vê completamente abalado com o ocorrido e decide que irá escrever um livro para vingar todas as vítimas da Guerra de Canudos. Os jornais publicaram diversos artigos das anotações de Euclides sobre Canudos, mas o grosso de suas anotações seria colocado n’Os Sertões. No ano de 1898, se mudou com sua família para São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, para supervisionar a reconstrução da ponte metálica que havia ruido em menos de dois meses após inaugurada. Foi nessa cidade que Euclides escreveu a maior parte de seu Magnum opus, mais especificamente, dentro de sua pequena cabana de sarrafos e zinco, que servia como seu escritório.
Em 1902 as primeiras impressões d’Os Sertões foram impressas pela editora Laemmert, edições que se esgotaram em apenas dois meses devido ao grande sucesso da obra. Posteriormente, Euclides recebeu a honraria de se tornar um imortal da Academia Brasileira de Letras em setembro de 1903, no mesmo ano em que assumiu no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Em 1904 é indicado para ser membro da Comissão de Reconhecimento do Alto Purus e vai para o estado do Amazonas em dezembro do mesmo ano. Ademais, no ano de 1909, Euclides prestou o concurso para a cátedra de Lógica do Colégio Pedro II e ficou em segundo lugar, atrás do filósofo Farias Brito, porém, a lei da época dizia que o Presidente da República escolheria quem assumiria a cátedra entre os dois primeiros colocados, sendo assim, Euclides foi nomeado professor. Lecionou por menos de um mês, teve sua carreira (e vida) interrompidas por um assassinato. Euclides, no dia 15 de agosto de 1909, decidiu se vingar de Dilermando de Assis, amante de sua esposa, com quem ela tinha ido morar no dia anterior com os filhos, e matá-lo. Foi até a casa do cadete da Escola Militar e atirou contra ele, porém, Dilermando conseguiu reagir e acertou dois tiros em Euclides, matando-o. O episódio ficou conhecido como A Tragédia da Piedade (por causa do bairro onde tudo ocorreu) e foi noticiada por todos os jornais. O corpo de Euclides foi velado na ABL, no lugar que sempre vai estar, lá onde vivem para sempre os imortais.
* Luís Otávio Rocha é de Cantagalo – RJ e atualmente faz graduação em Letras,
Língua Portuguesa-Literatura na Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Referências bibliográficas
Euclides da Cunha: Esboço biográfico – Roberto Ventura
Euclides da Cunha: uma odisseia nos trópicos – Frederic Amory
Era uma vez Euclydes (para jovens leitores) – Fabiana Corrêa
De Olho em Euclides da Cunha – Lúcia Garcia
Euclydes da Cunha E A Nação Brasileira: Por Ocasião Dos Cem Anos Da Morte Do Escritor – Euclides Penedo Borges
Euclides da Cunha: Militante da República – Walnice Nogueira Falcão
Euclides da Cunha: uma biografia – Luís Cláudio Villafañe G. Santos